13 de maio de 2013

Desventuras de uma Míope


Eu tinha uma visão perfeita. Daquelas que a avó pede para colocar a linha na agulha, e não me demorava nem 5 segundos, daquelas que a mãe falava “bemzadeus”, quando lia aquele cartaz longe, que ela nem entendia nada. Até que eu comecei a ler. Eu sabia que uma hora ia acontecer comigo, minha mãe sempre amou ler e meu pai também. Minha avó amava estudar línguas, e claro, eu não ia escapar do mesmo destino. Então me viciei na leitura e... Estou dando adeus a uma boa visão.

Eu lia com luz do celular, nas madrugadas antes de ir para escola, e sempre levava esporros. Depois, meu pai instalou uma luminária, que não ajudava muito, pois minha vista continuava sendo forçada, e cada dia mais, a visão que inicialmente só ficava cansada, foi ficando turva e sem cor. O problema era: Eu enxergava mal de longe, e quando chegava ao médico, ele dizia que a distância era normal, que eu não precisava de óculos... E lá estava eu, sem óculos, perdendo mil ônibus por causa do maldito oftalmologista. E não foi só um.

“Ah, esse grau é bem baixo, não é necessário óculos!”, eles diziam. Até essa semana, onde, não importa o que eles digam na próxima consulta, EU TENHO QUE USAR ÓCULOS. Passei direto por três pessoas que conheço. E não eram pessoas que eu vejo vez ou outra...

Lá estava eu, no ônibus, só reparando que aquele garoto descarado não parava de me encarar –e eu odeio que me encarem!-, amarrei a cara, me levantei para saltar e me assustei quando o “garoto descarado” segurou meu braço, pronta para dar um ataque, me virei e vi que, na verdade, era um dos meus melhores amigos no ensino médio, e que não tinha conseguido chegar até minha cadeira para falar comigo.

Naquele mesmo dia a noite, estava voltando pra casa quando vejo alguém correndo atrás de mim. Se eu senti medo? Só quase tive uma síncope mas... Era uma amiga que não via há muito tempo. –Fernanda! Tô acenando pra você e te chamando, me viu não? – Sinceramente? Não, não vi. Por quê? Porque estou ficando cega, só pode!

Dependendo dos outros, esperando que alguém pegue o mesmo ônibus que eu, para que eu não tenha que fazer sinal quando ele estiver muito perto. E, se o ponto estiver vazio, ter que fizer decifrando o “formato” das letra e ver se aquele lá é o meu mesmo. Ter que forçar a vista até não dar mais para ler uma placa. Ser enganada pelos malditos “a partir de tanto” nas placas das lojas, que sempre são pequenos demais para meus olhinhos míopes.

Eu acredito que vou conseguir um dia fazer meu exame e finalmente encontrar o oftalmologista que vai dizer “Sim, você precisa de óculos.” E eu vou poder parar de pegar os óculos dos outros para enxergar aquilo que está longe demais para mim e perfeitamente visível pelos outros.

Torçam por mim.


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